Testámos o Pacote Premium do Tivoli Alvor (e sobrevivemos para contar)
Há viagens que nos renovam a alma. Esta não foi uma delas.
Quando decidimos reservar o pacote Premium Tudo Incluído no Tivoli Alvor Resort, o plano era simples: descansar, desligar do mundo e evitar psicodramas — ou seja, tudo o que não conseguimos fazer.
Spoiler alert: fomos brindados com um festival de falhas digno de um estudo de caso sobre como não tratar clientes.
Do serviço que parecia estar em modo "vamos testar a paciência desde fulanos" desde o pequeno-almoço até à equipa que parecia em formação (ou em greve de simpatia), passando por refeições frias, cocktails que sabiam a frustração e moscas e varejeiras nos buffet…
Mas calma, não foi tudo mau. Também houve momentos de humor (nervoso), reflexões profundas ("será que ainda estamos em Portugal?, pois o staff era de grande maioria indiano e com cara de poucos amigos") e aquele jogo de casal de tentar adivinhar qual seria a próxima surpresa desagradável. Spoiler: ganhámos todos os rounds.
Neste artigo, partilho a nossa jornada pelo Tivoli Alvor em modo "tudo incluído menos o bom senso", para que, se alguma vez pensares em ir… saibas exatamente ao que vais.
O Check-in: Digno de um Filme de Terror Low-Cost
A primeira coisa que me chamou a atenção foi o sorriso forçado da recepcionista. Aquele sorriso automático de quem já viu mais hóspedes reclamarem em 15 minutos do que o número de estrelas que o hotel ostenta. Provavelmente, tal como nós, também achava surreal a fila interminável para fazer check-in. Um verdadeiro aquecimento para o caos que nos esperava.
Quando finalmente fomos atendidos, recebemos uma explicação apressada sobre onde ficava o parque do hotel — tão clara e detalhada que, claro, nos perdemos. Nada como começar as férias com um pequeno rally improvisado fora do resort, à procura da entrada para o parque de um resort mal sinalizado.
De seguida, fomos conduzidos num buggy elétrico até ao bloco onde ficava o nosso quarto. Até aqui, tudo bem, certo? Errado.
Durante a reserva, feita com mais de um mês de antecedência por telefone, expliquei com toda a clareza que tenho uma doença que afecta a minha mobilidade. Referi também que não posso estar longos períodos em jejum porque isso pode causar-me paralisia. Pediram-me que não me preocupasse, que tudo seria assegurado. Confiei.
O resultado? Um quarto no piso 1, sem elevador e longe da zona dos pequenos-almoços.
Subir e descer escadas, várias vezes ao dia, tornou-se num desafio (quase olímpico) que não estava no roteiro das férias. Fiquei com a sensação de que, em vez de levarem em conta a informação sensível que forneci, a guardaram num ficheiro imaginário chamado "ignorar com gosto".
Não sei se nos atribuíram aquele quarto por má gestão, falta de sensibilidade ou porque calhou mesmo mal. O que sei é que, logo na chegada, a confiança afundou-se mais rápido do que a nossa energia depois de carregar malas escada acima.
Pulseiras, Prioridades e Pouca Vergonha
Depois de largarmos as malas (e a paciência) no quarto, decidimos dar uma volta de reconhecimento pelo resort. A tarde estava quente, o cenário prometia… e nós só queríamos uma bebida refrescante para começar a descomprimir.
Parámos junto ao Salty Bar, onde nos serviram um refrigerante mais aguado do que as promessas do site. Foi aí que o meu marido, atento como sempre, solta:
— "Amor, andam aí poucas pessoas com pulseira dourada… a maioria tem é azul. Isso será por causa do pacote que escolheram?"
E foi nesse momento que os alarmes internos começaram a disparar.
Aquela frase inocente fez-me olhar para a minha própria pulseira azul como se tivesse sido marcada para um reality show de segunda categoria.
Sem perder tempo, lá fui até à recepção, onde me indicaram que devia falar com a Guest Relations. A jovem que me recebeu foi, de facto, muito simpática — e ficou visivelmente atrapalhada quando lhe expliquei o motivo da minha visita.
A pulseira azul era para hóspedes com "All Inclusive normal", enquanto a dourada era exclusiva para quem pagou o pacote Premium. Como nós.
Ou seja, alguém da equipa decidiu fazer uma pequena experiência social e ver se notávamos a diferença. Spoiler: notámos.
Tentaram fazer passar gato por lebre — ou melhor, pulseira azul por Premium — como se o investimento feito não justificasse sequer o detalhe mais básico: o tipo de acesso incluído.
A funcionária do Guest Relations ficou embaraçada. Pediu desculpa em nome da colega e mudou-nos as pulseiras. Mas o estrago estava feito.
Ficou no ar aquela pergunta incómoda: e se não tivéssemos reparado? Quantos outros hóspedes pagam pelo serviço Premium… e recebem azulzinho sem questionar?
Buffet de Confusões e um Herói Chamado Pedro
Nesse dia, optámos por jantar no Restaurante Essenze, o tal onde servem os almoços, jantares e ceias — sempre em regime buffet, claro. À chegada, indicaram-nos uma mesa e, prontamente, um funcionário aproximou-se para perguntar se queríamos água.
Educadamente, dissemos que sim. Agradecemos. E fomos buscar as entradas. Estávamos finalmente a entrar no espírito de férias. Ou assim pensávamos.
Quando regressámos à mesa, o mesmo funcionário — de origem indiana e sem entender uma palavra de português — perguntou-nos que vinho queríamos.
Respondi que gostaríamos de ver a carta de vinhos para clientes Premium, já que estávamos (supostamente) nesse regime. Foi aqui que o enredo começou a descambar.
O senhor não percebia o que lhe dizia. Nem em português. Nem em inglês. E teimava em servir-nos um vinho genérico, que estava ali ao lado, num frappé.
Já com a paciência a estalar como o gelo no balde, levantei-me e fui novamente à recepção. Pedi que me indicassem alguém que falasse português.
E eis que surge o salvador da noite: o Pedro.
O Pedro foi a lufada de competência que este resort tanto precisava. Educado, eficiente, com uma postura exemplar — daqueles profissionais que sabem ouvir, agir e resolver. Sem listas impressas disponíveis no restaurante (sim, leste bem), foi ele quem nos apresentou a carta de vinhos Premium… através do seu próprio telemóvel. E pronto. Escolhemos. Respirámos.
Mas… sim, ainda há mais.
Pouco depois, o funcionário indiano volta à carga. Dirige-se a mim com ar ofendido e solta:
— "You want wine, you ask to me."
Fiquei a olhar para ele, entre o choque e a vontade de rir de nervoso. Tentei explicar — novamente — que queria ver a carta de vinhos Premium, e que isso não é possível se ninguém me entende ou sabe sequer que ela existe.
Foi então que o mesmo funcionário entrou num registo de gozo descarado, murmurando qualquer coisa entre risinhos, como se estivesse a brincar com a situação.
Felizmente, o Pedro percebeu o que se estava a passar. Viu-me com aquele olhar de quem já só pedia uma noite sem mais testes de paciência, e interveio imediatamente.
O funcionário foi educadamente "despachado" da nossa mesa. E o resto da refeição, vá lá, correu sem mais surpresas.
Conclusão? Num resort que exige dress code para jantar, mas não tem carta de vinhos visível e conta com staff incapaz de comunicar com os clientes… o Pedro é um milagre ambulante.
Devíamos ter brindado a ele. Mas, com aquele vinho, nem isso conseguimos fazer em condições.
E isto foi só o primeiro dia…
Para quem queria descanso, privacidade e um toque de mimo Premium, o primeiro dia foi mais "escape room" do que escapadinha. Entre pulseiras trocadas, confusões linguísticas dignas de sketch de comédia, falta de acessibilidade e uma carta de vinhos invisível, só nos restava acreditar que… bom, isto não podia piorar.
Afinal, estávamos num resort Tivoli, em pleno Algarve, em regime Premium — só podia ter sido um azar do arranque, certo?
Spoiler: não foi.
Mas como o optimismo é a última coisa a morrer (logo a seguir à paciência), terminámos o dia com a esperança de que o segundo dia trouxesse menos caos… e talvez até um bocadinho daquela experiência "5 estrelas" que nos venderam.
Dia 2: O Paraíso... com Serviço de Telenovela
Ahhhh, não há nada como acordar no Algarve — o cheiro a mar, aquele fresquinho da piscina a convidar para um mergulho, e, claro, as bebidas geladas sempre à mão.
Até aqui, tudo parecia a promessa de um dia perfeito.
Mas é aqui que o nosso segundo dia começa a desmoronar a tal ilusão Premium.
Fomos ao buffet dedicado — sim, exclusivo para clientes Premium, pensámos nós.
O cenário prometia, mas pedir um simples ovo parecia mais um desafio olímpico: devias fazê-lo antes mesmo de saíres do quarto, porque o tempo que aquilo demora a chegar à mesa é desesperante.
E as chávenas? Se não estiverem colocadas nas mesas, estão guardadas numa prateleira a cerca de 50cm do chão.
Será que a higiene não é senso comum? Chávenas quase ao nível do chão???????
Enquanto tentávamos tomar o pequeno-almoço, havia ainda uma senhora a varrer o chão à nossa volta — não o tipo de ambiente que imaginas quando sonhas com férias num resort 5 estrelas.
Mesas impecavelmente vazias, clientes ignorados
Uma coisa que não passou despercebida foi a obsessão dos supervisores com as mesas sempre limpíssimas.
Devem andar a repetir à exaustão que os empregados têm de recolher os pratos usados assim que possível — tanto, que os funcionários chegam a tirar os pratos antes de terminarmos de comer.
Sinceramente? Devem preocupar-se mais com o essencial e menos em criar um ambiente de stress para quem trabalha e para quem toma uma refeição.
Mas, no meio deste caos, ganhámos uma aliada inesperada — a querida Astrid, uma funcionária colombiana que trabalhava no hotel. Se há uma coisa boa para guardar do buffet, é a simpatia e dedicação da Astrid, que nos deu aquele toque humano tão necessário num lugar onde o resto parecia automático e desligado.
Piscina Exclusiva para Adultos (ou para corajosos)
E eis que, ainda no segundo dia, chega aquele momento que se espera em qualquer férias de sonho:
ir para a piscina.
Claro, optámos pela piscina exclusiva para adultos.
E que bem que se estava ali… água a uns agradáveis 25º, sol no ponto certo… parecia finalmente que algo ia correr bem.
Mas… claro, a culpa deve ser minha, por achar que o "exclusivo" incluía também manutenção e limpeza básica.
Já dentro de água, começo a notar uma espécie de espuma branca a acumular-se nos bordos da piscina — e não, não era proveniente da natureza. Era mesmo sujidade entranhada, acompanhada por verdete em várias zonas interiores. Um charme, portanto.
A dada altura, comecei a perguntar-me se não teríamos entrado sem querer numa experiência estilo "spa natural abandonado".
Resumindo: se a intenção era relaxar, o stress com o estado da piscina acabou por neutralizar tudo.
Exclusivo… sim, exclusivo para quem tem estômago forte.
Resumo (nada) gourmet de 7 dias Premium
Não vos vou maçar com o relato diário e detalhado dos nossos 7 gloriosos dias neste resort digno de um episódio dos Monstros do Turismo, mas deixem-me só partilhar o essencial:
✅ Restaurantes:
Testámos todos. Sem excepção. E conseguimos um feito raro: não comer bem em nenhum deles.
Comida sem sabor, frequentemente fria, e servida com aquele charme que só a má vontade e a má formação conseguem proporcionar.
No Roastic, por exemplo, a bancada da hospedeira ostentava com orgulho uma coleção de tufos de pó e cotão que pareciam fazer parte da decoração de outono.
✅ Serviços de Bar "Premium":
Preparem-se para levar com tudo, menos o que pedem.
Sim, as meninas são giras e sorriem muito, mas quando peço um Bacardi e me servem Bagaceira com um "is the same, madam", o encanto esgota-se num segundo.
Querem enfiar-nos goela abaixo bebidas feitas na máquina e pronto, não há volta a dar.
✅ Serviço na Piscina de Adultos:
Só queria devolver as toalhas e recuperar os cartões.
Mas tive de esperar que a funcionária terminasse de beber a sua água, colocar protetor solar (com a serenidade de quem está de férias — não a trabalhar), e ainda tive direito a um olhar de desdém quando finalmente me atendeu…
Os cartões vieram de volta a brilhar de creme solar, como se fossem parte de uma experiência spa de mãos untadas.
Quartos com boas intenções... e falhas diárias
Os quartos, confesso, não eram maus. O espaço era razoável, a cama semi-confortável e havia silêncio, os blackouts é que eram mais estreitos que a largura das janelas — o que, para quem precisava de descansar, não era um mau ponto de partida.
Mas, como já seria de esperar, o serviço de reposição foi um festival de falhas:
📌 Tapetes saída de banho? Nem sempre.
📌 Café? Às vezes, só à segunda tentativa, após reclamação.
📌 Minibar? Só mediante reclamação.
E se achas que o conforto compensava, deixa-me acrescentar: o ar condicionado funcionava mal, ora demasiado fraco, ora desligava sem razão. E a pressão no chuveiro? Para alguém com o cabelo como o meu, cada lavagem transformava-se numa aventura épica com final incerto.
Em suma, o quarto tinha tudo para funcionar... se alguém se lembrasse de o manter funcional.
Spa? Tive direito… mas também tive medo!
Como parte do Pacote Premium (ou tentativa de emendar a barracada das pulseiras trocadas), entregaram-me um voucher para um tratamento no Spa do resort.
Ora, depois de dias de más experiências, atendimento descuidado e zero confiança no profissionalismo da equipa… só me restava uma opção: agradecer e recusar.
Sim, eu — que sofro de uma condição que afecta a mobilidade e precisava mesmo da massagem — preferi não arriscar. A ideia de entregar as minhas pernas (literalmente) nas mãos de alguém mal preparado assustou-me.
E se isto não diz tudo sobre o grau de (des)confiança… então não sei o que dirá.
Buffets Premium... com moscas incluídas
Se há coisa que nunca devia acontecer num buffet, muito menos num que se autointitula premium, é a presença constante de moscas.
Mas aqui? Aqui tínhamos direito a tudo. Moscas em todas as refeições, voando com confiança entre os pratos e travessas. E, como se não bastasse, ainda fomos presenteados com a ocasional varejeira a dar o seu passeio triunfal pelos frios.
A pergunta impõe-se: é tão difícil garantir condições mínimas de higiene? Onde anda o controlo de qualidade? Porque sejamos honestos — isto não é só desconfortável, é perigoso e inaceitável.
O Bom (sim, houve... a sério!)
Não quero terminar este relato sem reconhecer que, sim, também houve coisas boas. Poucas, mas houve.
E não, não estou a falar das espreguiçadeiras ou das filas — estou a falar de pessoas.
🌟 Pedro, o nosso verdadeiro salvador.
Educado, eficaz, profissional e com uma paciência de santo, foi a luz ao fundo do túnel do Tivoli Alvor.
Se o hotel tivesse mais cinco Pedros, talvez estivéssemos aqui a escrever um post de recomendação em vez deste relato de sobrevivência.
✨ Astrid e António João, sempre com um sorriso, boa vontade e um esforço genuíno por ajudar. Nota 8/10.
⭐ E claro, o Alex, o Mário e a Bia, que apesar das limitações do contexto, se destacaram pelo esforço, simpatia e profissionalismo. Um sólido 7/10.
Estes nomes deviam ser destacados na gestão do hotel — porque no meio do caos, foram as únicas âncoras de sanidade e decência.
5 estrelas... em que universo?
Optei por este hotel porque cresci com uma imagem muito clara do que representa a marca Tivoli. Morei na Baixa de Lisboa até aos 25 anos, e para mim, Tivoli sempre foi sinónimo de luxo discreto, atendimento impecável e garantia de satisfação. Era aquela marca que inspirava confiança, que nos fazia sentir especiais. Ora… nada disso encontrei no Tivoli Alvor Algarve Resort.
Conforme puderam acompanhar neste relato real e vivido na pele, esta experiência não honra a marca Tivoli como a conheço, e muito menos se aproxima do que se espera de um hotel de 5 estrelas Premium.
Se me tivessem vendido esta estadia como um 3 estrelas — naturalmente com um preço justo e condizente — eu estaria aqui a felicitar as boas intenções, as instalações razoáveis, e a desejar-lhes boa sorte para o futuro. Assim, resta-me dizer: não voltaremos. E não recomendamos.